Simbolismo
O Simbolismo foi uma escola literária de poetas, que tinham colegas por todo mundo como o francês Charles Baudelaire, mas tinham pouco reconhecimento e aceitação artística. Vários de seus integrantes morreram pobres, não tiveram obras publicadas e permaneceram ou permanecem esquecidos até hoje.
Movimento de relações com o Modernismo influencia a maioria dos poetas da 1ª fase do Modernismo. Aqui surgem as primeiras rupturas com os padrões rígidos de composição e restabelecimento da relação entre poesia e existência, separadas pelos parnasianos.
Características
Esta poesia representa uma reação contra toda produção poética anterior.
• Nega Realismo e suas manifestações - contra materialismo, cientificismo e racionalismo
• valoriza as manifestações metafísicas e espirituais - subjetivismo
• eu = universo (também critica o eu “sentimentalóide” dos românticos)
• buscam a essência do homem - alma (poesia de auto-investigação)
• matéria X espírito, corpo X alma, sonho e loucura
• busca da purificação com o espírito atingindo regiões etéreas e integração com o espaço infinito (cosmos)
• corpo = correntes que aprisionam a alma (libertação só pela morte)
• primado do símbolo, valorização da metáfora, onde o símbolo é sugestão
• palavras transcendem significado - cheio de sinestesias, assonâncias e aliterações
• musicalidade do verso
• “poesia pura” - surge do espírito irracional, não-conceitual e contrária à interpretação lógica
• temática da consciência da degradação da vida
Autores
Cruz e Sousa (1861-1898)
Filho de ex-escravos foi criado por um Marechal e sua esposa como um filho e teve educação de qualidade. Perseguido a vida inteira por ser negro, culminando com o fato de ter sido proibido de assumir um cargo de juiz só por isso. É ativo na causa abolicionista. Morre jovem de tuberculose, vítima da pobreza e do preconceito.
É considerado neo-romântico simbolista pois valoriza os impulsos pessoais e sua condição de indivíduo sofredor como fonte de inspiração poética. Suas poesias sempre oferecem dificuldade de leitura. Trata-se de um poeta expressivo, apelidado de “Cisne Negro” ou “Dante Negro".
Prenuncia duas tendências que marcam a poesia moderna: sondagem psicológica, pela expressão do mundo interior e invenção lingüística, pela preferência a estruturas conscientemente elaboradas.
Obras Principais:
Poesia: Broquéis (1893), Faróis (1900), Últimos Sonetos (1905)
Poesia em prosa: Tropos e Fantasias (1885), Missal (1893), Evocações (1898)
Alphonsus de Guimaraens (1870 -1921)
Apaixonado desde jovem por uma prima sofre com a prematura morte da amada e passa por uma crise de doença e boêmia. Forma-se em Direito e Ciências Sociais, colaborando sempre na melhor imprensa paulistana. Fica conhecido como “O Solitário de Mariana”.
São constantes em sua obra a presença constante da morte da mulher amada, os tons fúnebres de cemitérios e enterros, a nostalgia de um medievalismo romântico, além do seu famoso marianismo (culto a Virgem Maria). Sua obra prenuncia o surrealismo
Seus versos tinham musicalidade e sutileza para a atmosfera religiosa que inspiravam, como mostra a passagem a seguir.
"O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu."
Obras Principais:
Poesia: Setenário das Dores de Nossa Senhora (1899), Dona Mística (1899), Câmara Ardente (1899), Kiriale (1902), Pauvre Lyre (1921), Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte (1923), Poesias (Nova Primavera, Escada de Jacó, Pulvis, 1938).
Prosa: Mendigos (1920)
Pedro Kilkerry (1855-1917)
Foi um dos vários poetas simbolistas quase anônimos. Pobre e boêmio, morreu tuberculoso em Salvador. Nada deixou em livro, o que dele se conhece se reduz ao que publicou em revistas simbolistas baianas Nova Cruzada e Os Anais. Sua obra só entrou em evidência em 1970, com Re-visão de Kilkerry (seleção de poemas organizada por Augusto de Campos).
Sua poesia era forte e desconcertante, sendo uma das melhores do Simbolismo brasileiro. Caracteriza-se pela base metonímica e metafórica.
Textos
Cárcere das Almas
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço, olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tu se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!
(Cruz e Sousa)
Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-me na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria dar a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu.
Seu corpo desceu ao mar...
(Cruz e Souza)